Do blogue "
Portugal é Fixe!"
O assassinato de Catarina Eufémia em 19 de Maio de 1954, na herdade do Olival, em Baleizão, propriedade do agrário Fernando Nunes, envolve-se de aspectos dos mais monstruosos de hediondez e sadismo do seu assassino, Carrajola, tenente da GNR do quartel de Beja, e mostra ao mesmo tempo como a força da repressão sob o fascismo era sempre um instrumento ao serviço dos interesses mais sórdidos dos grandes exploradores do trabalho humano.
E o crime de Baleizão mostra também como, em momentos de intensa comoção de massas, a arma da repressão de classe contra o mundo do trabalho pode violentar e ferir no mais fundo os sentimentos de fraternidade e solidariedade humana e de classe dos trabalhadores.
Naquele dia, em Baleizão, no concelho de Beja, em plena época das ceifas, os assalariados agrícolas, no termo do período de desemprego sazonal e crónico, numa decisão colectiva unanimemente tomada nas praças de jorna, recusam trabalhar pelo salário oferecido pelos agrários e reclamam mais uns escudos por um trabalho dos mais penosos da faina agrícola alentejana – a ceifa -, sob o sol da canícula que nem os chapéus de palha triga das mulheres, nem os de negro feltro dos homens pode neutralizar.
O agrário Fernando Nunes, por alcunha «O Carteirinhas», como o conjunto entendido entre si dos agrários, não cede à reivindicação dos ceifeiros. E o pessoal entra em greve - a forma mais elevada que tem à mão para resistir à prepotência e à ganância dos exploradores e fazerem valer as suas razões.
O agrário da herdade do Olival tenta quebrar a unidade dos ceifeiros e ceifeiras de Baleizão contratando um rancho de fora. Os da terra chegam-se à fala com os de fora e estes, esclarecidos pelos seus camaradas baleizoeiros, solidarizam-se com eles e abandonam o trabalho.
É nesta altura que entra a GNR, os impede de retirar e os obriga a trabalhar sob as armas aperradas. Numa concentração, o povo de Baleizão em peso - cerca de mil e quinhentas pessoas - quer de novo falar com os ceifeiros de fora. A força da GNR impede-os, mas 16 valentes mulheres furam a barreira e avançam para falar com os companheiros do outro rancho.
Catarina, a cabeça da fila indiana das mulheres,
com um filho ao colo e outro no ventre, é interpelada pelo monstro Carrajola que lhe salta ao caminho e lhe berra: «p***! Vai para casa criar os teus filhos!» E dá-lhe uma violenta bofetada.
«Não me bata», grita Catarina, «o que eu quero é trabalho e pão para os meus filhos!»
Carrajola encosta-lhe ao busto o cano da pistola metralhadora e friamente faz três disparos.
"Quem viu morrer Catarina / Não perdoa a quem matou"